Primeiro capítulo de "Kemper: memórias de um serial killer", de Fernando Sales.
"Quando
eu tinha oito ou nove anos, meu pai me levou a uma pequena loja de discos;
havia um grupo de crianças lá, porque ia acontecer um show de mágica. Um homem,
o mágico, ele iria... Provavelmente, você já deve ter visto uma guilhotina
falsa, aquilo impressiona... Eles puseram uma batata, para demonstrar, e a
partiram ao meio, com um só corte, seco. Nós ficamos impressionados porque
alguém colocaria o pescoço na barra e iam baixar a lâmina sobre seu pescoço. A
batata cai, é partida em duas, mas a cabeça da pessoa não vai cair, não vão
cortar uma pessoa em público, certo? Mesmo assim, todos tinham muito medo e estavam
fascinados. 'Oh meu Deus!' era o que se interpretava da expressão geral.
Ele
precisava de uma voluntária. Eu estava na plateia assistindo ao show, e uma linda
garota de 16 anos se levantou; houve muitos risos, muita excitação e eu... Eu
fiquei encantado com aquilo. Eu disse uau! Naquele momento, me desliguei da
realidade, porque logicamente eu deveria ser capaz de entender que aquilo era
impossível. Você realmente não vai decapitar alguém no meio de Helena, em
Montana, a capital do estado. Entretanto, em minha cabeça, eu não pude deixar
de imaginar aquilo acontecendo de verdade; de alguma forma, me vinha um sentimento
que eu mesmo não compreendia.
O
conceito daquilo era brutal. Em minha ilusão, eu estava empolgado dizendo: 'Cara, preciso ver isso'. O mágico, naquele momento, trouxe sua namorada e pôs
as mãos dela posicionadas para segurar a própria cabeça. Enquanto ele fazia
piadas sobre não querer fazer um galo, em caso de queda, eu estava
impressionado pela interação entre tantas pessoas com uma preocupação em comum e
só queria perguntar ao mágico: 'Você não quer fazer um galo na cabeça dela, mas
vai decapitá-la?'. Aquilo prendeu mesmo minha atenção, e eu pensei e penso até
hoje centenas de vezes: uau!"
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