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LIVRO REINO SUB-IMUNDO - PUBLICAÇÃO 7- Novela Semanal Digitalista - Digitalismo


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(Na publicação, falávamos sobre como Esníguio enriqueceu com o mercado de alisamentos capilares).


Foi, é preciso que se reforce, através dessa prática que Esníguio conseguiu toda sua fortuna, o seu Everleste de cédulas, o seu Saiara de pedras preciosas, suas pilhas-recarregáveis-de-ouro, sua ideologia capetalcentrista, sua verba ingastável e até mesmo sua inigualável assistente. Ser o melhor numa profissão tão importante como aquela era ocupar a posição de maior estatos entre os escravos-da-mídia, os reinodistânticos.
Um de seus hábitos mais banais era fumar cigarros enrolados em notas de dez pólares e de cinqüenta auros; Tarja o olhava torto sempre que fazia isso. Outro sacrocostume seu era colecionar óculos e sapatos, de modo a adquirir um a cada turno do dia, e de madrugada ainda roubar os dos mendigos; Tarja doava semanal e secretamente metade das aquisições aos excluídos da política-do-calçado. Era o rei dos aniversários de cachorro e certa vez deu de presente a um deles um helicóptero da Segunda Guerra Outonal; sua assistente conseguia inevitavelmente convidar crianças aniversariantes para os mesmos aniversários, diminuindo o sentido absurdo da caninolatria.
João Martins! Não tape os olhos, não se esconda atrás de Sofia, sua bela e agreste esposa! Esníguio poderia, se quisesse, comprar sozinho a água doce do mundo para colocar em suas piscinas subterrâneas. Tinha submarinos da Anasa, aviões da Primeira Guerra Hibernada, carros intergalácticos. Mas, apesar do todo, sentia em si um estranho incômodo, que não era da ordem dos valores lisocultuadores: sentia-se descontente. Era óbvio que ninguém poderia saber daquilo, porque no Reino Sub-Imundo a felicidade é uma obrigação, sorrir é um protocolo e sentir-se mal é como ser, nos tempos antigos, um leproso, do qual todos se afastavam por trazer consigo uma automutilação contagiosa.
Interrompo. Interrompo porque está diante de nós, atlântidos-público, a Sociedade do Espetáculo!, também conhecida como Indústria da Bobo-Alegria, onde os palhaços-plantonistas espalham pelos ares uma falsa felicidade à qual, no fim das contas, nenhum deles realmente sente.
Prossigo. O primeiro desmotivador para a depressão de Esníguio foi sem dúvida o mesmo que assola qualquer humano masculino inexperiente ou inaprendente de qualquer sociedade: as mulheres. Que não gostavam dele, que só o usavam, que diziam que ele era somente um lustroso ser do por-fora. E chorava como choram as criancinhas quando perdem no jogo e apanham das mais fortes, ficando ensangüentadas. Coitadas.
Gustavo, triste era o fardo daquele tolo homem, que não percebia sua felicidade já encontrada: alisar cabelos, não obstante o estatos e o dinheiro, não o realizava. Esnygyo sentia estranhamente a pequenez de seu ofício tão importante naquela sua capital tão famosa, Padrid. Ele queria mais do que as tão desejadas chapinhas, feitas tanto por homens quanto por mulheres, madames, senhoras, donzelas, mocinhas, adolescentes, pansexuais, homenzarrões, modelos, crianças, moleques e todos. Queria desistir e simplesmente deixar seus cabelos crespos ao natural, o tolo, o sempre tolo, o patetanzil, e queria até mesmo parar de trabalhar em alisamentos...

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Foto de Esníguio, na intimidade

Parte IIIsto é um mercado?; Do concurso de beleza lisense, em que quem disputa não são as modelos; Da diferença entre duas vitórias

Socorro, atlântidos! Os capetalistas-produtores me pressionam de tal forma com sua Mídia-Atômica, que me vejo obrigado a falar estabanadamente sobre seus produtos! Comprem, comprem! Logo aqui um Sabonete-de-Gordura-Baleica-Multi-Insaturada, um Perfume-Importado-Diretamente-da-Pocilga-Melhores-Narinas, um pacote de Pastilhas-Saliva-do-Leão-para-a-Garganta!
(Ora, Úmero, é óbvio que isto é uma metaironia, é certo que esta pressão alheia, que em nada me aperta, muito me diverte. No entanto, necessito afetar certa coação para eles pensarem que exercem sobre mim sua vontade de poder: faço-me um pseudoescravo, na verdade, por puro sarcasmo. Além do mais, esta é também, sem dúvida, uma ótima maneira de agradar as lindas moças que nos circundam: a retrô-estilizada Karen e a bela paranoica Bea).
Pronto, é passado. Justo é dizer que os concursos de beleza do Reino Sub-Imundo tinham intenções francamente comerciais: comercialíssimos, diria José Dias, aquele esnobe semiengraçado, inventado por Canivete de Assis ou Guimarões Cravo, um desses dois derrepentistas fundamentais do povo superior.
Tais eventos eram o maior ponto de divulgação da Propaganda da Desnecessidade, tão venerada por lisenses. Ali surgiam os neolançamentos e os gerilançamentos, de todas as marcas de gosméticos, xampus, acondicionadores, cremes, pomadas, tratadores-capilares, pseudotratadores-capilares, odorizadores-de-eructação-e-ventosidade e todos os produtos mais amados pelas mulheres e tolerados pelos homens.
Nos concursos de capilatria, que logo veremos, minha bela Bea Rodrigues, minha obcecada pela beleza soberana, vendia-se realmente de tudo, pois esses funcionavam como uma Porta-da-Esperança para os criadores-de-produtos-inúteis-e-oportunistas. Seria uma aberração medonha falar de tudo que ali há... Mas como você, que é a linda Beatriz de um Fernando Sales, é curiosíssima quanto às tendências ginecocapilares, neste instante delas falarei ao menos um pouco.
Na seção noturnocultuadora, havia peças íntimas para serem mostradas, arrancadas ou fagocitadas – quando fosse Carnaval. Na seção música-sem-música, havia vestimentas para todos os gostos: pedaços de roupa para não-cobrir as moças que fossem dançar a música-do-corpo; shortículos para não passar calor, mas para provocar calor; enfim, havia até mesmo uma farrapoteca infinita de minivestidinhos e microssaículas tão minúsculos quanto chiques e caros para o caso de as supostas-meretrizes resolverem ir, e ir já preparadas, ao Forró-Roupa-de-Marca-e-Música-sem-Marca.
Atlântida Karen Winehouse, sua admiradora de homens desnutridos, já que resolvi adentrar no assunto, reservei para você a apresentação da seção...

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CONTINUA...

Na semana que vem, não perca a segunda parte do Concurso de Beleza Lisense!

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