Modernismo no Brasil – 2ª fase - Geração de 1930
Passado o primeiro
momento, de preocupação principalmente estética, a literatura volta-se para a denúncia social, com enfoque realista. O regionalismo torna-se destaque nesta segunda fase. É o que vamos
chamar de arte engajada.
Contexto histórico
1929 – crise da bolsa
de Nova Iorque
1930 – Revolução de
1930
1939-1945 – Segunda
Guerra Mundial
1937-1945 – Estado
Novo
A PROSA
Graciliano Ramos
- prosa enxuta,
direta, sem adjetivos, só escreve o essencial;
- denuncia a situação
do nordestino (o particular), ao mesmo tempo que denuncia todo e qualquer homem
que viva miseravelmente (o universal).
Principais obras: Vidas Secas; São Bernardo;
Angústia; Memórias do Cárcere.
São Bernardo -
Graciliano Ramos
Este é, sem dúvida, um dos romances mais
densos da literatura brasileira. Uma das obras-primas de Graciliano , é narrado
em primeira pessoa por Paulo Honório , que se propõem a contar sua dura vida em
retrospectiva, de guia de cego a proprietário da Fazenda São Bernardo. Ele sente
uma estranha necessidade de escrever, numa tentativa de compreender, pelas
palavras, não só os fatos de sua vida como também a esposa, suas atitudes e seu
modo de ver o mundo. A linguagem é seca e reduzida ao essencial. Paulo Honório
narra a difícil infância, da qual pouco se lembra excetuando o cego de que foi
guia e a preta velha que o acolheu. Chegou a ser preso por esfaquear João
Fagundes por causa de uma antiga amante. Possuidor de fino tato para negócios,
viveu de pequenos biscates pelo sertão até se aproveitar das fraquezas de Luís
Padilha - jogador compulsivo. Comprou-lhe a fazenda São Bernardo onde
trabalhara anos antes. Astucioso, desonesto, não hesitando em amedrontar ou
corromper para conseguir o que deseja, vê tudo e todos como objetos, cujo único
valor é o lucro que deles possa obter. Trava um embate com o vizinho Mendonça,
antigo inimigo dos Padilhas, por demarcação de terra. Mendonça estava avançando
suas terras em cima de São Bernardo. Logo depois, Mendonça é morto enquanto
Honório está na cidade conversando com Padre Silveira sobre a construção de uma
capela na sua fazenda. São Bernardo vive um período de progresso.
Diversificam-se as criações, invade terras vizinhas, constrói açude e a capela.
Ergue uma escola em vista de obter favores do Governador. Chama Padilha para
ser professor. Estando a fazenda prosperando, Paulo Honório procura uma esposa
a fim de garantir um herdeiro. Procura uma mulher da mesma forma que trata as
outras pessoas: como objetos. Idealiza uma mulher morena, perto dos trinta
anos, e a mais perto da sua vontade é Marcela, filha do juiz. Não obstante
conhece uma moça loura, da qual já haviam falado. Decide escolher essa. A moça
é Madalena, professora da escola normal. Paulo Honório mostra as vantagens do
negócio, o casamento, e ela aceita. Não muito tempo depois de casado, começam
os desentendimentos. Paulo Honório, no início, acredita que ela com o tempo se
acostumaria a sua vida. Madalena, mulher humanitária e de opinião própria, não
concorda com o modo como o marido trata os empregados, explorando-os. Ela
torna-se a única pessoa que Paulo Honório não consegue transformar em objeto. Dotada de
leve ideal socialista, Madalena representa um entrave na dominação de Honório.
O fazendeiro, sentindo que a mulher foge de suas mãos, passa a ter ciúmes
mórbidos dela, encerrando-a num círculo de repressões, ofensas e humilhações. O
casal tem um filho, mas a situação não se altera. Paulo Honório não sente nada
pela sua criança, e irrita-se com seus choros. A vida angustiada e o ciúme
exagerado de Paulo Honório acabam desesperando Madalena, levando-a ao suicídio.
É acometido por imenso vazio depois da morte da esposa. Sua imagem o persegue.
As lembranças persistem em seus pensamentos. Então, pouco a pouco, os
empregados abandonam São Bernardo. Os amigos já não freqüentam mais a casa. Uma
queda nos negócios leva a fazenda à ruína. Sozinho, Paulo Honório vê tudo
destruído e, na solidão, procura escrever a história da sua vida. Considera-se
aleijado, por ter destruído a vida de todos ao seu redor. Reflete a influência
do meio quando afirma: "A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta
vida agreste, que me deu uma alma agreste." Concluímos, portanto, que o
ser individual entra em crise, e é nesse momento que a obra torna-se grandiosa.
O homem cruel agora torna-se simplesmente homem.
Vidas Secas – narra a história de uma família miserável,
a de Fabiano, que desce do Nordeste para o Sudeste em busca de emprego e
melhores condições, mas que, claro, só encontra miséria e mais miséria pelo caminho.
Vale notar que os personagens são
animalizados, quase não falam, e que a cachorra
Baleia pensa mais do que os meninos, que nem nome recebem.
A história inicia-se em 1940 com
uma família pobre do sertão nordestino em busca de um lugar para sobreviver.
Exaustos, o chefe da família Fabiano, sua mulher Vitória, seus 2 filhos e o
cachorro Baleia encontram uma casa e passam a noite, já que ela estava
aparentemente abandonada.
De repente chega o dono da
fazenda e ameaça expulsar a família da fazenda. Fabiano implora trabalho e
acaba ficando na fazenda.
Um ano depois, Fabiano, já era
empregado da fazenda e cuidava dos animais como vaqueiro, porém não recebia o
salário suficiente por todo trabalho árduo que realizava.
Indo a cidade, Fabiano e a
família vão à uma festa regional e Fabiano ao convite de um soldado vai jogar
baralho com uns apostadores, apostando todo o seu salário e no momento que
percebeu que estava perdendo no jogo, saiu e foi abordado pelo soldado
ocorrendo uma discussão entre eles.
O soldado chama a polícia e eles
o prendem, acusando-o injustamente e o agridem com um facão.
A mulher e as crianças sentindo
sua falta pernoitaram na calçada e no dia seguinte viram o dono da fazenda e o
padre indo em direção a prisão. O padre liberou Fabiano da prisão.
O tempo passou e a família foi
ficando cada vez mais pobre, pois Fabiano gastava todo o dinheiro no jogo, e
sua mulher revoltou-se.
A seca castigava cada vez mais os
animais e por isto, Vitória quis fugir da fazenda.
A família organiza a mudança e
Fabiano quer matar Baleia que está doente, mas acaba a ferindo com um tiro,
porém ela foge. Nisso as crianças choram muito a perda do animal.
Por fim, Fabiano e a família saem
em retirada e o sertão continuaria a mandar para a cidade homens fortes, brutos
como Fabiano, Sinhá Vitória e os meninos. O ciclo se reinicia.
A POESIA
Carlos Drummond de Andrade
Maior poeta de toda a literatura brasileira.
Passa por pelo menos três fases (alguns autores defendem a idéia de uma quarta
fase). Merece destaque especialíssimo e análise profunda.
1ª fase – fase gauche
Aquele que se sente às
avessas, torto, que não consegue estabelecer comunicação com a realidade.
Pessimismo, individualismo, isolamento, reflexão existencial, ironia,
metalinguagem.
Obras: Alguma poesia;
Brejo das almas.
Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
2ª fase – fase social
Interesse pelos
problemas da vida social. Deixado de lado o gauchismo. O contexto histórico
explica muito a respeito dessa nova fase drummondiana: ascensão do
nazi-fascismo; Segunda Guerra Mundial; Ditadura Vargas.
Obras: Sentimento do
mundo; José; Rosa do Povo
Mãos dadas
Não
serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
a vida presente.
3ª fase – fase do signo do não
No contexto da Guerra
Fria, o autor inclina-se para a poesia reflexiva, filosófica, metafísica. Temas
como a morte e o tempo passam a ser freqüentes. Certa tendência ao Concretismo.
Obras: Claro Enigma;
Fazendeiro do ar; Lição das coisas.
Confissão
Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde , ao voltar da festa.
Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.
Do que restou, como compor um homem
e tudo o que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, murmúrios
de riso, entrega, amor e piedade?
Não amei bastante sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro - vinha azul e doido-
que se esfacelou na asa do avião.
Outros poemas importantes:
JOSÉ
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
No Meio do Caminho
No meio do caminho tinha uma
pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei desse acontecimento
que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no
meio do caminho
no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei desse acontecimento
que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no
meio do caminho
no meio do caminho
tinha uma pedra
Quadrilha
João amava Teresa que amava
Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Cecília Meirelles
Suas poesias apresentam a transitoriedade
da vida e elementos que transmitem
leveza, como a água, o vento, o mar, a música. Pela musicalidade dos versos
e espiritualidade dos temas, é
considerada uma poetisa neo-simbolista.
Trata ainda da efemeridade (ser passageiro) e a fugacidade (ser muito rápido)
das coisas.
É preciso não esquecer nada
É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver
a nova borboleta
nem o céu de sempre.
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o
nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o
dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se
já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.
Murmúrio
Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!
Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!
Modernismo no Brasil – 2ª fase - Geração de 1930
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