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"Memórias de um sargento de milícias" - Manuel Antônio de Almeida

Memórias de um sargento de milícias – Manuel Antônio de Almeida

Nascido na época do nosso ultra-romantismo mais descabelado, é difícil definir que tipo de romance (há os que afirmam ser uma novela picaresca, em que o herói é um anti-herói, divertido e que se mete em muitas encrencas, e em que o enredo não é o forte) é Memórias de um sargento de milícias. O certo, no entanto, é classificá-lo como romance extemporâneo, uma vez que, nascido em pleno Romantismo, tem características tipicamente realistas. Além disso, é o primeiro romance que se liberta do conservadorismo assemelhado ao de Portugal e traz à luz um modelo brasileiro de narrativas e falares típicos, ou seja, primeira afirmação de um romance genuinamente nacionalista entre nós.
Esse romance é importante para destacar a sociedade da época, principalmente no que se refere à linha da ordem social. Os personagens constantemente variam entre a ordem e a desordem, não são nem bons nem maus, nem ricos nem pobres, sem profundidade psicológica: simplesmente pessoas comuns. Inicia-se também nesse livro uma cultura que será bastante cultuada em nossa literatura ao longo do século seguinte: o malandro.
A Parte I começa pela expressão: "Era no tempo do Rei." De que rei? Possivelmente de D. João VI e a época da chegada da corte portuguesa ao Brasil, em 1808. O romance tem este tom narrativo-designativo como se o narrador fosse o condutor do leitor a um mundo pouco convencional ao romance da época: um mundo formado de criaturas comuns, na periferia e nunca na corte, gente como o Barbeiro, a comadre, Vidinha, Luisinha, Maria da Hortaliça e Leonardo Pataca, o pai. Gentinha, gentalha, o "Zé-povinho".
Leonardo, o protagonista, é nascido de "uma pisadela e de um beliscão", abandonado pelos pais que o deixam sob os cuidados do padrinho, cresce ao deus-dará, sem temer nada ou ninguém, movido pelo prazer e pela alegria de viver. É dessa forma que podemos aproximá-lo de Macunaíma, outro herói sem nenhum caráter.
Foge da tradição romântica do par amoroso bem-aventurado: tanto Leonardo como Lusinha são seres nada extraordinários: se ele é filho de "uma pisadela e de um beliscão", Luisinha é uma moça feia, de olhos baixos e franja a cobrir os olhos, braços compridos, roupas esquisitas que "tendo perdido as graças de menina ainda não alcançara as graças de mulher".

Enredo

A história é a seguinte: Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça, os pais de Leonardo, vêm de Portugal no mesmo navio. E se tornam amantes na travessia. Nascido, pois, de "uma pisadela e de um beliscão" (nome dado às cantadas àquela época), o pequeno vem ao mundo no Rio de Janeiro, na periferia, onde os pais foram morar. Leonardo Pataca era um meirinho corrupto e a mãe uma mulher de costumes socialmente condenáveis. Deram-no para ser batizado pela comadre, parteira e benzedeira, e pelo compadre, um barbeiro bonachão que acabou por criar o menino porque os pais o abandonaram à própria sorte (a mãe fugira com o capitão do navio que os trouxera ao Rio).
O padrinho queria fazê-lo advogado ou padre, mas nada conseguiu, uma vez que o menino não se deu bem na escola e sequer como coroinha.
Tornou-se moço entre as gentes das mais baixas camadas sociais e se apaixonou por Luisinha, moça órfã de quem dona Maria conseguiu a tutela. Depois de brigar em casa após não ter visto Luisinha, Leonardo foge e acaba vivendo um período como agregado de uma outra família, da qual faz parte Vidinha, uma paixão momentânea. Enquanto isso, Luisinha acaba se casando com o rico advogado José Manuel.
 Leonardo, que nessas alturas era um "vadio-mestre" era constantemente perseguido e preso pelo Major Vidigal. Por obra de fuxicos das comadres, consegue-se um posto nas milícias para Leonardo, através do Major Vidigal.
Luisinha fica viúva, Leonardo vai, está claro, tê-la para si: rica, linda, porque agora, finalmente, ganhara as tais "formas de mulher".

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